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Paradeiro Misterioso!

Capítulo # 1

 Sim, sim, sim - disse o velho marinheiro, com ar de mistério.

Faz muito tempo, mas é verdade o que falam. Eu o vi sim.

Era alto e magro, os olhos pareciam duas águas marinhas, de tão azuis.

Não consegui ver se tinha a cicatriz que descrevem, pois uma barba

densa escondia o queixo. Mas não tenho dúvida de que era ele.

 

Tom e Tina ficaram sem ar com a informação. Finalmente

após tantos anos uma pista real, algo que parecia, podiam confiar.

 

A busca já durava muitos anos, e nem haviam sido eles a dar o início. Em verdade, a busca tinha sido iniciada pelo pai deles, logo após o desaparecimento do avô.

Deste avô brincalhão e cheio de energia tinham pouquíssimas lembranças. Tom, dois anos mais velho, lembrava um pouco mais, mas Tina não lembrava de quase nada.

A lembrança mais forte de Tina era ela sentada no joelho do avô que subia e descia como se fosse um barco em mar revolto.

— Segurem-se marinheiros, a tempestade quer nos levar a todos! Não abandonem suas tarefas, amarrem os tambores ao deck, baixem as velas, configuração de árvore morta nos mastros, o vento está muito forte. Assim falava o avô com vigor enquanto o joelho subia e descia, imitando a fúria do oceano. Tina tentava se segurar como podia naquela perna vigorosa. A cada tranco ria alto, às gargalhadas mesmo. Mas de vez em quando caia no chão.

 

Quando isso acontecia o avô gritava:

— Homem ao mar, homem ao mar! Joguem a bóia salva-vidas, joguem a bóia salva-vidas! Nisso a mão do avô descia ao chão e aos gritos de "Pegamos! Pegamos! Ela está salva", colocava Tina novamente em seu joelho para começar tudo de novo.

 

Tom já não gostava mais dessa brincadeira de bebê. O que ele gostava mesmo era de ouvir as histórias do mar, de aventuras em terras distantes com povos misteriosos.

 

Eram tantos e tão ricos os detalhes das histórias, que Tom não sabia se avô as inventava ou se ele realmente tinha estado em todos aqueles lugares.

 

As histórias eram sempre diferentes, mas o fim era sempre o mesmo:

— Um dia, quando menos esperarem, vou voltar para aqueles terras e viver entre meus amigos de Tupckalauakaka.

 

Ninguém levava a sério as histórias do vovô. Mas isto começou a mudar numa manhã garoenta de um dia muito triste. Nesta manhã, a esposa dele - a vovó Betina, que vinha bastante doente fechou os olhos para nunca mais abrir.

 

Vovó Betina e o vovô viviam juntos naquela casa a muitos anos. Da vida deles antes dos filhos, ninguém sabia muito. Era um mistério tão grande quanto o fato de não saberem se as histórias do vovô eram verdade ou não.

 

Cada vez que Tom perguntava para a vovó se as histórias eram verdade, ela não respondia, mas nestes momentos seus olhos ganhavam um brilho indecifrável e dos lábios escapava um sorriso jovial.

 

As tardes na casa de vovô e vovó eram maravilhosas. Da vovó tinham carinho e comidas tão deliciosas que só vovós sabem fazer. Do vovô histórias fascinantes e passeios aventurosos pelos costões a beira do mar. Com o vovô aprenderam a amar as aventuras e observar os elementos como o vento, as ondas e as estrelas.

 

— Se conhecerem bem estes três elementos nunca estarão perdidos no mar. ‒ Repetia sempre com entusiasmo, porem na tarde daquele mesmo dia, logo após a despedida da vovó no cemitério, vovô sumiu.

 

Buscaram por toda a parte. Não podia estar longe pois o carro estava na garagem, a bicicleta na varanda, onde sempre ficava quando não estava sendo usada.

Pensaram que o vovô talvez tivesse ficado triste e ido a algum lugar para encontrar paz para sua tristeza e que logo mais estaria de volta. Chegou o fim da tarde e ele não voltou. Chegou a noite e ele não voltou. A madrugada passou e ele não voltou. O dia amanheceu e ele tampouco havia voltado.

 

Quando o dia amanheceu todos estavam na casa de vovô e vovó. Amigos, parentes, polícia, bombeiros. Todos voltavam das buscas que haviam varado a noite sem sucesso.

 

Buscaram pelo litoral, pelas trilhas nas florestas, foram a todos os locais que sabiam que o vovô gostava, mas não o encontraram.

 

Todos pensavam o pior, e a sensação ruim só se intensificava a cada grupo de busca que voltava sem boas notícias.

 

Neste momento o pai de Tom e Tina desceu as escadas com uma expressão no rosto difícil de decifrar. Se aquela expressão trazia alívio ou preocupação, não dava para dizer.

 

— A antiga mochila de viagem, o casaco de navegar e a bússola sumiram. Disse o pai das

crianças.

Bússola igual a usada pelo avô. Igual, mas não a mesma!

Nisso a mãe, vindo da cozinha disse:

— Parece que alguém preparou um lanche e saiu apressadamente.

 

Agora havia uma certeza e um mistério. O vovô estava vivo era a certeza. Para onde havia ido era o mistério.

Será que estava cumprindo sua promessa de viver junto aos Tupckalauakaka, num lugar misterioso que ninguém conhecia? Só quem sabia a resposta era a vovó, mas ela não estava mais lá para dizer.

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