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Dentro do quarto misterioso

Capítulo # 3

Dentro do quarto misterioso

 

O quarto não era muito grande, o forro acompanhava o telhado. O que mais chamava a atenção eram três poltronas confortáveis. O que demonstrava que aquele não era um ambiente apenas de guardar coisas.

 

Em uma das poltronas, a mais limpa, provavelmente da vovó, dois livros descansavam em seus braços. Um aberto de cabeça para baixo e outro fechado.

 

Na segunda e terceira poltronas, mais sujas, era uma bagunça só. Ao redor delas havia vários volumes, alguns empilhados, outros abertos, outros espalhados pelo chão.

 

Havia uma mesa no centro da sala que apresentava a mesma bagunça. Papéis com anotações, mapas riscados com anotações, réguas, esquadros, transferidores e velhos instrumentos científicos faziam parte daquela bagunça. Num pires, uma caneca ainda com chá dividia espaço com algumas bolachas bolorentas. O bolor crescia alto, como uma delicada rede fios brancos.

 

Tamanha era a bagunça, que até havia café derrubado nos mapas, deixando-os imprestáveis.

 

Não havia dúvida que alguém esteve muito ocupado estudando aqueles livros e mapas.

 

Estantes de livros se espalhavam pelas paredes onde elas eram verticais e pequenas vitrines protegiam pequenos tesouros. Provavelmente lembranças das aventuras do casal. Na parte inclinada das paredes, fotografias mostravam dois jovens, aventureiros de igual medida.

 

O que mais impressionava naquele ambiente era o mistério que pairava no ar. Não dava para imaginar que aquele casal simpático de velhinhos escondia este tesouro num quarto de porta simples trancada.

 

Que segredos trariam aqueles livros e mapas? Se pudessem falar, o que aquelas fotografias antigas contariam da vida daquelas pessoas? Que histórias estavam por trás de cada uma daquelas peças cuidadosamente guardadas?

 

Tantas coisas para conhecer, tantos mundos por redescobrir naqueles velhos livros, mas infelizmente nenhuma das pessoas que agora adentrava o mundo de segredos dos moradores daquela casa pensava nisto.

 

Quase nenhuma. Tom foi o último a entrar. Entrou naquele quarto com um respeito de quem entra numa catedral, com a humildade de quem entra numa biblioteca histórica.

 

De alguma forma compreendia que cada peça daquele quarto devia ser tratada com respeito, que muitos dos objetos ali provavelmente era único e sua perda seria permanente e irreparável.

 

Pode ser que as pessoas não entendessem o valor daquilo que estava ao alcance dos olhos, mas com certeza o ambiente lhes impunha um respeito tão profundo, que ninguém que entrou ali conseguiu falar uma palavra por muito tempo.

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O quarto misterioso. Você é capaz de encontrar uma bússola, um telescópio e bolachas mofadas?

A primeira a falar foi a pequena Tina.

— Porque tem três poltronas aqui se só o vovô e a vovó moravam aqui?

 

Ninguém havia se dado conta disso. Todos olharam imediatamente para as poltronas como se tentassem confirmar o que os olhos estavam vendo. Realmente havia três poltronas para duas pessoas. Ou será que mais alguém tinha acesso àquele quarto?

 

Já não bastava a quantidade de informações naquele quarto, agora tinham que lidar com a possibilidade que talvez o vovô não estivesse sozinho nesta aventura.

— Se o vovô tem companhia, dificilmente ele vai voltar em breve, se é que vai voltar. — Disse o pai de Tina e Tom. — Vamos olhar as fotos, talvez haja alguma foto que indique quem é esta terceira pessoa! — Disse a mãe dos dois.

— Parece que eles tinham muitos amigos. — Disse Mojica.

 

De fato a maior parte das mais de 100 fotos que estavam grudadas nas paredes tinham pessoas ou grupos de pessoas nelas. Havia fotos antigas e recentes. Pelas fotos, parece que as aventuras tiveram um fim abrupto. De repente elas param e começam a aparecer fotos de família. Primeira da vovó Betina grávida, depois de um bebê, que a mãe de Tina e Tom reconheceu ser ela mesma.

 

Começaram a procurar por alguém que estivesse com mais constância nas fotos, mas não conseguiram perceber um padrão que pudesse identificar alguém.

— É muito possível que a pessoa misteriosa que frequentava este quarto seja dessa região. — Disse o pai das crianças.

— É verdade, será que há alguém conhecido nas fotos? — E lá foram eles ver foto a foto para ver se reconheciam alguém.

 

Como era de esperar, não reconheceram ninguém em especial. As fotos mais recentes eram apenas fotos de família, de pessoas absolutamente insuspeitas.

 

Tom se divertia na mesa com os mapas e instrumentos. Não havia nada que lhe passasse despercebido. Como "já" tinha 7 anos, podia ler e por isso tentava ler qualquer coisa. Não estava interessado em achar uma pista, queria saber mesmo em que aventura tinha se metido o vovô.

 

Seja lá onde o vovô estivesse, Tom tinha certeza que ele estava se divertindo muito.

Como queria estar com ele.

Ele mal percebia o assunto dos adultos. O avô lhe havia ensinado a ler mapas, assim podia perfeitamente distinguir uma ilha de um rio, ou uma montanha íngreme de uma mais suave.

 

Ele estava curiosíssimo para saber de onde eram os mapas. De fato, todos aqueles nomes,em diversas línguas diferentes, e alguns com letras esquisitas eram muito difíceis.

 

Reconheceu muitos acidentes geográficos, mas palavras que pudesse entender foram muito poucas. Que ele se lembrasse foram realmente só duas "Amazonas" e "porto".

Como os adultos estavam muito preocupados com coisas de adultos, resolveu não incomodar ninguém, embora tivesse muitas perguntas para fazer, principalmente o que significava uma palavra que se parecia com "tupcanascta", ou algo parecido.

 

Junto a essas palavras havia uns desenhos de canoas e índios, coisas que o vovô adorava.

 

Isso sim parecia um bom ponto de início de busca

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Haviam muitos mapas desenhados a mão como este. Como não mostravam uma cidade ou o nome dos rios,fica difcíl saber a localização, sem dúvidas, são indicações de vilas de povos de culturas secretas. Vejam as inscrições em código.

Quando juntou coragem para perguntar se aquilo era interessante, um carro de polícia parou na frente da casa.

 

O chefe de polícia do vilarejo foi avisado pelo pai das crianças de que eles entrariam no quarto misterioso. Ele veio conferir se havia alguma pista que pudesse ajudar a descobrir o paradeiro do vovô.

 

Assim que entrou no quarto os biscoitos com fungo lhe chamaram a atenção.

— Nossa, faz bastante tempo que este quarto está fechado, pelo tamanho do fungo, eu diria que a cerca de 3 semanas ninguém entra aqui.

 

Os adultos começaram a conversar sobre as fotos. O policial olhava cada uma delas com atenção, tentando descobrir alguém nas fotos que pudesse ajudar.

 

Tom tentava pedir ajuda a seu pai, mas sempre ouvia de volta:

— Você prometeu que ficaria quieto e que se comportaria se eu deixasse você entrar no quarto.

 

Assim não está bom, fique quieto. Falou o pai com dureza.

Sem graça com a bronca no garoto, o guarda, que não tinha filhos resolveu ouvir Tom.

— O que você quer mostrar, Tom? Perguntou o guarda.

— É este mapa aqui, tem um desenhos legais, o vovô sempre falava deles.

— Deixe me ver. — Disse o chefe de polícia no momento em que tocou seu telefone. — Alô, Chefe de polícia, quem está falando?

 

Todos pararam para ouvir a conversa do guarda, afinal não é todo dia que ouvimos um policial ao telefone, coisas muito interessantes acontecem na vida deles que são assunto que muitas pessoas gostam.

 

O diálogo com a pessoa no outro lado do telefone continuou:

— Sim, sim, conheço o pontal da Pedra Virada, fica no fim da estrada das Vacas. É mesmo? Vou para aí agora mesmo. — Disse com voz preocupada e desligou o telefone.

Virando para as pessoas presentes no quarto disse:

— Desculpem-me, tenho que sair com urgência, outro desaparecimento.

— Oh meu Deus! — Disse a mãe das meninas — quem desta vez?

— O negro Martinho. Saiu para pescar com seu barco há umas 3 semanas. Devia ter voltado em duas semanas e não retornou.

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