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Bagdá - Iraque

Capítulo # 9

Não havia um plano para visitar os lugares das fotografias. Havia apenas pressa.

As passagens foram compradas, e como não havia com quem deixar Tom e Tina, eles tiveram que ir junto.

 

— A gente vai viajar, perguntou Tina? vendo a mãe e o pai fazerem as malas.

— Sim, vamos amanhã bem cedo Tina.

— Aonde a gente vai? vamos visitar o vovô?

— A gente vai procurar o vovô, mas não sabemos se vamos encontrá-lo.

 

Eles chegaram em Bagdá, no Iraque, no meio da noite. A cidade estava silenciosa, no aeroporto poucas pessoas haviam descido com eles do avião. Um senhor um pouco velho e mal tratado veio na direção deles na saída do aeroporto.

 

— Boa noite sayidi - disse o velho senhor 

— Sou Ahmed Hamid. Al Sagh não pôde vir pegá-los e pediu que eu viesse no seu lugar. Vou levá-los ao hotel, mas, se não se importarem, preciso passar na casa de um amigo antes.

— Estamos cansados, a viagem foi longa e as crianças precisam dormir Sr. Hamid- disse a mãe com alguma impaciência.

— Só vai tomar um minuto, prometo - Retrucou o velho sr. com uma impaciência difícil de interpretar e já colocando as malas rapidamente no porta malas do velho carro surrado.

— Entrem, entrem. Allayl khatir, allayl khatir. - disse misteriosamente.

 

Não saber o que significava aquela frase misteriosa gelou a alma de todos, menos Tina que dormia no colo da mãe. Tom que estava com sono, quase dormindo, acordou no colo do pai, sem saber se o que havia ouvido era português ou que língua era, mas fosse o que fosse também não gostava.

 

— Vamos logo embora. Disse Hamid enfiando todos no carro e olhando em volta, como se procurasse se certificar de algo antes de entrar ele também no carro e acelerar.

 

O carro velho pegou primeiro uma grande e larga avenida e seguia em velocidade, como se estivessem com pressa, ou pior, fugindo de alguém.

 

A larga avenida ficou para traz e com as luzes todas apagadas, o que era também estranho, o carro zunia agora por ruas estreitas e curvas de um bairro afastado de Bagdá.

 

— Onde está nos levando Hamid? perguntava com insistência e nervosismo o pai. A resposta era sempre a mesma.

— Min fadlik kuna suburana, confie no velho Hamid. Min fadlik kuna suburana.

— Não sei o que você está falando Hamid. Pare este carro agora! Vamos descer aqui agora mesmo.

 

Não adiantava brigar, Hamid dirigia o velho carro na escuridão como se tivesse olhos de gato.

A esta altura já viajavam a mais de meia hora, sendo que o hotel ficava a apenas 15 minutos do aeroporto.

 

A paciência da mãe e do pai chegaram ao limite. Tom estava de olhos tão abertos e tão apavorados que ele pareciam um tarcídeo no meio da noite.

 

Depois de 45 minutos de viagem louca no meio da escuridão o pai explodiu dando um murro do painel e exigindo que Hamid parasse o carro para que eles descessem. Hamid obedeceu.

 

Obedeceu estranhamente.

— Se sayidi quer, Hamid para, Hamid deixa sayidi e família aqui como ele quer....

 

O alívio da família durou pouco. Quando abriu a porta para descer eles perceberam onde estavam. Ou melhor, onde não estavam.

 

Não se enxergava nada em lado nenhum, a noite quase negra pouco permitia ver do que havia em volta. Parecia estarem a beira de um deserto pelo profundo silêncio e calor que fazia naquela noite de vento parado.

 

— É... bem... talvez... talvez aqui não seja um bom lugar para ficar falou o pai, percebendo o golpe em que havia caído, e pondo a família rapidamente de volta no carro.

Tom não tinha certeza, mas achava que na escuridão da noite havia visto um sorriso sarcástico no rosto de Hamid.

 

— Onde está nos levando Hamid? perguntava a mãe e o pai a cada tanto.

 

De resposta só o silêncio. 

O carro continuava em velocidade quando casas começaram a aparecer na beira da estrada. Uma cidade cheia de poeira do deserto apareceu do nada iluminada pela fraca iluminação pública.

 

O carro virou à direita numa rua sem pavimento, à esquerda e novamente a esquerda. A rua ficou apertada e era muito escura.

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A rua estreita pela qual Hamid dirigia velozmente

Não havia ninguém nas ruas. Desde que haviam saído de Bagda, de vivo, só haviam visto cachorros magros e gatos esquivos atrás de ratos crescidos.

Mais a frente o carro saiu num lugar aberto, para logo entrar num lugar estreito novamente. A rua era tão estreita que nem era possível pôr a mão para fora sem batê-la no muro que voava pela janela numa velocidade incrível.

Hamid conhecia aqueles becos, isso não havia dúvida.

De repente ele parou de frente a um portão de madeira velho e pesado.

Um muro alto, tão velho quanto o portão, fazia da construção uma fortaleza difícil de passar e ... de saber o que havia dentro.

Duas pessoas encapuzadas e pesadamente armadas abriram rapidamente o portão enquanto outras duas, também armadas vigiavam o beco pelo qual tinham vindo.

O coração do pai e da mãe veio à boca. Estavam mudos de pavor.

Tom? estava tão assustado quanto os pais. Só Tina dormia tranquilamente no colo da mãe.

— Sarie, sarie - falou uma das pessoas encapuzadas. No que Hamid acelerou para dentro.

Rapidamente o portão foi fechado atrás deles e fortemente trancado com grandes pedaços de ferro. 

Dentro, mais pessoas armadas estavam em prontidão.

Era de fazer xixi nas calças.

A pequena construção estava judiada. Aqui e ali haviam buracos que pareciam feitos por balas de canhões e nos muros havia marcas de tiros para todos os lados.

Antes mesmo do carro conseguir desligar, uma das pessoas encapuzadas foi direto na porta onde estava a mãe das crianças. Ela abriu a porta enfiando o carão para dentro pondo uma lanterna forte no rosto de Tina.

— AHHHHHH. Sai daqui, sai daqui, fique longe da minha família !!! 

— Zara tadhhab bbt' - disse Hamid com um tom de voz que parecia brava, mas difícil de identificar.

A pessoa mascarada parou e disse

— Asif, asif. Foi a resposta que ouviram saindo por detrás da máscara. 

E a voz era feminina.

Hamid ajudou a mulher a tirar a máscara e por debaixo dela surgiu uma velha senhora de rosto redondo e bondoso, que com um largo sorriso falou em um bom português olhando para Hamid.

— Mas é linda. Igualzinha a avó. E este? disse olhando para Tom - deve ser o irmão dela. É igualzinho ao avô. Allah yhmyhm, Allah yhmyhm - Terminou ela.

— Podem descer agora sahidy, estamos seguros aqui.

(Link de um dicionário árabe - português para ajudar a acompanhar esta história. Mas tem uma palavra que vai ser difícil)

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